quarta-feira, 27 de novembro de 2013

NA PONTA DOS DEDOS...



Estava sentada a olhar o mar
e devagarinho te vieste aninhar
no meu colo a sussurrar
mais baixinho que as ondas do mar

Pegaste então na minha mão
e ficamos os dois como em oração
silenciosos a contemplar a união
das mãos que não se queriam largar

Como um imen na ponta dos dedos,
feitiçaria do mar, ou outros enredos,
nossas mãos colaram sem medos,
as mãos não se podiam mais largar

E agora quando estás em outra margem,
sei que há um imen na ponta do meu dedo
e que tu guardas um outro em segredo.
Ele te fará sempre e sempre regressar
e colarmos novamente a ponta dos nossos dedos.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

SURREALISMO



A vida às vezes é aborrecida
E apesar da normalidade ser garantida
Nos meus sonhos fico convencida
Que essa não é a única saída

Estou farta de faces inexpressivas
De cores suaves e esbatidas
Do certinho e ritmado
Do ciclo fechado e controlado

Eu queria uma explosão de sentidos
Ver o brilho dos olhos e dos risos
Sentir uma arritmia harmoniosa
Uma geometria de tão irregular, a mais formosa

Imaginar-me dentro de um quadro de Dalí
E a vida faria tão mais sentido aí
Onde o real acompanha todo e qualquer sonho
E os sentidos dão espaço ao que eu proponho:
Uma realidade mais viva que o real

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ATÉ UM DIA...


Dia após dia, mais um dia
e mais outro e outro a seguir
até que um dia, pára tudo esse dia
e os olhos cerrados não voltam a abrir

O tempo é um fatal contratempo
tornando qualquer existência inexistente.
Uma imagem se desfaz em vento
abranda em brisa e se torna ausente

Porque é que tudo está tão próximo do oposto?
Até o oxigénio, tão nobre elemento
mantém-nos vivos, mas oxida e corrói o corpo.
O corpo que um dia será apenas vento.

Tudo parou nesse dia, a imagem, o vento
e depois até mesmo a brisa.
Mas o tempo continuou em contratempo
e no dia seguinte amanheceu para mim mais um dia.
Até um dia...