quarta-feira, 26 de março de 2014

CARROSSEL


Num impulso, a incrível a sensação
De conduzir a vida em contra-mão
Desprendida de normas e de idades
Dirigida pelos sonhos e vontades

E se simplesmente parasse de conduzir,
Me sentasse descontraída e me deixasse ir?
Voltasse a ser novamente uma criança
Sem preocupação de como a vida avança?

E se ficasse sentada num carrossel
Girando em ilusões e fantasias de mel
Livrando-me das tempestades da vida em fel
Ao libertar nos céus um papagaio de papel?

E a cada volta do carrossel girando
Mais longe o meu eu ia avançando
Reencontrando a doce parte adormecida
Da criança e da inocência perdida


terça-feira, 18 de março de 2014

UM RIM DENTRO DE NÓS



Dentro de mim, de ti, de nós
Há um filtro que nos equilibra
É da natureza da vida
E hoje é dia de lhe dar voz

Dentro de eles, de ti, de mim
Há uma entrada e uma saída
De fluidos e matéria conduzida
Para que a vida não tenha fim

Dentro de eles, de ti, de mim
Há uma união sentida
E a esperança de uma vida
Partilhada por um rim


Dedico a todos os doentes insuficientes renais em programa de dialise

quarta-feira, 12 de março de 2014

DESCOBERTAS DA JANELA

Desta janela, um sol intenso
E a promessa de um mundo imenso
Ordenam a nossa presença
E que a nossa vontade vença

Vamos saltar pela janela
Vincar as unhas, roer a trela
Sim, somos ambos destemidos
Vamos apurar nossos sentidos

Tu e eu vamos descobrir
O que esta janela anda a encobrir
Vamos os dois, vamos saltar
Com este instinto a impulsionar...

Vamos caminhar agilmente sobre os muros
Vaguear ilegais, meter-nos em apuros
E recuperar depois no conflito dos telhados
Vendo a lua nos teus olhos espelhados

Seguirmos o voo inconstante dos pardais
Deslizarmos invisíveis e inaudiveis nos beirais
Vamos, eu e tu, vamos descobrir
O que esta janela nos anda a encobrir

quarta-feira, 5 de março de 2014

GERAÇÃO DE 70


Entre séculos, num passeio
Encontrei num café o recheio
Da geração de oiro de outrora
Elevando a ideologia que os devora

A revolução literária, o realismo
Na renuncia ao passado e ao romantismo,
Erguem-se Eça de Queirós e Antero Quental
Entre outros diletantes elegantes do real

Numa questão de bom senso e bom gosto
Entre ideias e livros, tudo fica exposto
Mas são criticados estes vencidos da vida
Numa sociedade contida e reprimida

Porque o preconceito, o pré-formatado
O pré-estabelecido e o predestinado
Comandam a mente de uma sociedade
Sobrepondo-se à lógica e à diversidade