quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O NOSSO TEMPO


Não esperes por amanhã
Para morder a maçã
E se quisermos em pecado
Nos deitarmos lado a lado

Meu amor
Este é o nosso tempo
Seremos livres como o vento
Sempre que atiçares as chamas
Ao dizeres que me amas

Não desperdices este tempo
Faremos da vida o nosso momento
Pararemos o tempo e o espaço
Com a força apertada do nosso abraço

Como deuses do Olimpo
Temos poderes que eu sinto
Pelo amor e pela vontade
O nosso tempo é a eternidade

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

MARIONETAS



Colocaram-lhe uns baraços
Nas pernas e nos braços
E agitando-os no ar
Fizeram-no caminhar

Foi coagido nos movimentos
Nesse e em outros momentos
Manipularam-no na fala
Como quem vê e se cala

Os cordéis o arrastaram
A outros rumos o obrigaram
Meteram-no num triste avião
E cruzou os céus da emigração

Como se fosse um fantoche
Sujeito ao desprezo e ao deboche
Tiraram-lhe os sonhos e o norte
Decidiram a sua própria sorte

Como uma marioneta comandada
Pelas mãos de uma criança
À mercê da vontade alheia
A ver como a vida avança

Quantas marionetas somos?
Presos por diferentes contornos
Mas emaranhados, acorrentados
Já conformados ou desesperados?

Esperando que se rompam os baraços
Para retomarmos os nossos passos
Reacendermos a nossa raiz
E a esperança de um País

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

LEVA-ME CONTIGO


Nessa tua mala já quase feita
Entre as camisas, numa frincha estreita
Eu consigo enroscado caber decerto
E ir contigo, neste cantinho modesto

Não te preocupes com a comodidade
Oh só de ir contigo, que felicidade!
Que ficar para trás não seja tua vontade
Pois sei que morreria de tanta saudade

Neste cantinho mais nada caberia
Por isso acompanhar-te-ei neste dia
Nesta viagem talvez sem regresso
Continuar contigo é só o que peço

Aqui escondido não darás por mim
Mas se deres... mesmo assim...
Ficarás chateado e ralharás comigo
Mas não me abandones e leva-me contigo

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

XEQUE-MATE


Iniciamos aquele jogo os dois
Começaste e eu continuei depois
Envoltos em estratégia e táctica
Como um problema de matemática

E as nossas peças avançavam
Meus cavalos te derrubavam
Depois tuas damas controlavam
Nossas mentes e corpos se cansavam

Mas ninguém abandona a partida
Porque nestes jogos da vida
Há demasiado, há muito em jogo
As peças avançaram sem retorno...

E aos poucos a estratégia dissipou-se
A lógica em ilógica tornou-se
E  perdemos os dois, a cabeça e o juízo
Para entre um beijo exclamarmos em riso:
Xeque-mate!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

CAMUFLAGEM


Hoje quase que queria não ser racional
Para poder imiscuir-me na natureza
E sentir que me juntava de forma natural
À sua mais pura essência e beleza

Queria não pensar e apenas ser
Ser um ser aos olhos dos outros, mas aos meus não
Abdicar dos pensamentos que me cansam de viver
E encontrar o equilíbrio no vazio da emoção

Eu queria ser uma erva do monte
Que se molha com a chuva, se agita com o vento
Ou ser um pássaro que dorme ao relento
Sobrevive de instinto e não de pensamento

Queria camuflar-me, deixar de pertencer à sociedade
E juntar-me à natureza mais densa do cerne da vida
Onde a vida é o que é, não é estudada ou compreendida
Não há racionalização, nem ajuste da vontade

Queria que meu corpo tomasse a forma
De um pequeno, rasteiro e verdejante arbusto
Os meus dedos folhas verdes lembrassem, num susto
E me mantivesse assim, abanando com o vento
Em comunhão com a natureza e longe do pensamento