segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

À ESPERA DO PAI NATAL


Perdida num Natal distante
A memória de um plano infalível
Para ver essa figura incrível
Apanha-lo-ia em flagrante

E finalmente veria o Pai Natal
Mas o verdadeiro Pai Natal
Não um outro impostor ao serviço
De barriga pequena e algodão postiço
Como se se tratasse de Carnaval

No alto das escadas escondida
Esperaria todo o tempo preciso
Para poder dar o meu sorriso
Quando o interpelasse sem aviso

E no dia vinte e quatro após o jantar
Corri para o planeado lugar
O Pai Natal iria finalmente encontrar
Recordo-me da excitação, meu coração palpitar!

E esperei, esperei, esperei
Aos apelos da minha mãe resisti
"Micá vem comer formigos"
"Micá está muito frio aí"...

Esperei, esperei, esperei
A todos os apelos resisti
Mas após três horas no esconderijo
Não podia mais... fui fazer chichi!

E voltei logo a correr novamente
Quando cheguei, à minha frente
Sapatinhos rodeados de presentes
E não havia sinais de gente

Mais uma vez ele tinha escapado
E meu plano infalível falhado
Por tal motivo embaraçoso
Este desfecho tão penoso:
Mais um ano sem ver o Pai Natal!



quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

CASTELO DE AREIA



Com cada migalha de sonho
Com cada lembrança de areia
Com cada pedrinha no chão
Construí a minha vida inteira

Construí meu castelo de areia
Com todos os pedaços que recolhi
Tal como o passarinho faz o ninho
Com uma folha daqui, um pauzito dalí


Minha edificação de fragmentos
De seguramente frágeis fragmentos
Vivo sobressaltada noite e dia
Para lutar contra todos os ventos

Da obra fui fraco arquitecto
Pois de sonho em sonho
Fui alterando meu projecto
Sempre em mudança de aspecto

Da obra sou empenhado operário
Seguindo meu trabalho solitário
Pondo cada areia de recordação
Sobre uma outra de emoção

E sou sempre fiel guardião
Alerta a qualquer aragem de vento
Guardando cada areia de sentimento
Do meu castelo em construção.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

ALOQUETE


Preso àquela ponte antiga,
Ao sol, à chuva e ao vento
Creio que tilintará em cantiga
O nosso aloquete ferrugento

E quando o vento é mais forte
Tilintará mais alto a cantar
Os desejos que pedimos à sorte
Quando o prendemos naquele lugar

E tal como resistirá o aloquete
Ao sol, à chuva e ao vento
Resistem os nossos sonhos
Ao desgosto e ao sofrimento

Tantos e tantos sonhos... imensos
Nossos e de outros sonhadores como nós,
Dormem embrulhando a ponte como lenços.
Descansa que nossos sonhos não estão sós...

Não sei se àquela ponte voltaremos
Se o nosso aloquete encontraremos
Não sei se o rio, se as águas daquelas nascentes
Abençoarão nossos desejos crescentes...

Apenas sei que vamos continuar a dançar
Com o som distante do aloquete a tilintar..



quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A TORRE DE HÉRCULES


Que viesse de longe um herói
Retomado de um tempo antigo
Libertar-nos do actual inimigo
Relembrando o que a Grécia foi

Como se Hércules de rompante
Viesse libertar o nosso povo
Que vive torturado de certo modo
À mercê de um outro gigante

Que venha um Hércules vitorioso
Que lute com o ganancioso
Gigante, educado e moderno,
E lhe dê descanso eterno

Para que assim o povo descanse
Para que o meu País avance
Retomando o sonho e a dignidade da vida
Sobre outra torre de Hércules erguida.