quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Quem sabe amar?


Como será realmente amar?
Amar com todo o bem querer
Amar e ser-se amado
Amar e não sofrer?...

Haverá mesmo amor que dure?
E por isso se chame amor?
Ou hoje em dia, tal palavra
Usa-se em qualquer noite de calor?

Olho, olho e não encontro!
Como penso que deveria ser amar,
Ninguém ama pois ninguém abre
Toda a sua alma para dar

Será amar uma simples atracção?
Daquelas que em dois dias se esquece?
Ou que dá p'ra "dar-se uns beijos"
Quando se quer, se apetece?!

Porque é que o "meu" amar....
Não existe? Ou se perdeu?
Porque ninguém sente como eu?

Toda a gente ama c'o corpo
Esquecendo logo o que se viveu
Eu queria também amar c'o a alma
Um amor do tamanho do céu!!

Alquém quer....amar como eu?....
Então não posso amar
Porque ninguém ama sozinho...

2001
(imagem de Salvador Dali)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Sedação Consciente


Acordei e doeu - senti a dor
Numa constante ansiedade
Em que só a dor é verdade
E só há sofrimento em redor

Acordei e não quis - senti a dor
E a ideia de adormecer
Só para não mais sofrer
Era o querer maior

Não senti -adormeceu a dor
Consciente da minha condição
Atordoada pela situação
Mas à situação dando valor,
Porque....
. Acordada não senti dor

2003
Dedico este poema aos meus amigos Alexandra, Pintinho e Roriz, relembrando com saudade os nossos serões e trabalhos na faculdade.
(imagem: O grito, de Munch)

Gota ...a gota...


A Terra a arder em apuros
Valeu-lhe o grandioso Céu
Que às nuvens fazendo furos
Uma nova vida lhe deu:
Gota... a gota...

Todavia, a Terra estava triste:
Tão enorme, mas tão só!
Porém o Céu que a tudo assiste
Também chora de dó:
Gota... a gota...

E o diluvio formou os mares
Deslizando sobre a terra,
Espalhando sonho e vida
A magia de uma nova era:
Gota...a gota...

E uma primeira e singela flor,
Pequena, frágil e assustada
Acordou-a o correr dos rios
No despertar da radiosa alvorada:
Gota...a gota...

E outros peixes, outras flores,
Belos lagos, grandes moinhos,
Uteis bebedouros, novos seres
Até o Homem, todos se formaram:
Gota... a gota...

Nasceu-se dela, sobrevive-se dela
E nessa sede que em ti arde e te consome
Procura-la até nas tuas miragens
Sentindo-lhe o sabor como se fosse fome:
Gota...a gota...

E é esse deserto que tu és
Enorme, mas vago, quase inerte,
Procurando desesperadamente um oasis
Só então a sede se inverte:
Gota...a gota...

Só ela é verdadeira e forte
A justiceira dos valores vitais
No combate vital até à morte
Sempre contra as chamas infernais:
Gota... a gota...

E é num copo, fresca e limpida,
Incolor, insipida e inodora,
Nesta simplicidade, que se condensa a fortuna
Deste mundo que a devora:
E a gota seca...

Mas é contra ti oh àgua pura:
União do Céu e da Terra
Que a mente vazia e fútil
Do teu fruto te encerra:
E a gota seca...

São estes seres oh bondosa água
Que não te reconhecem como Mãe
Que renegam o teu valor,
Em tudo o que de ti vem:
E a gota seca...

E é esta dor que te moi
A tua geral insignificância
Neste mundo que constrois
Mas te trata com arrogância:
E a gota seca...

Salvas o mundo, vives para o mundo
Tornas o mundo vivo...
Mas o mundo mata-te
Desampara-te o falso amigo:
E a gota seca...

E é este mar de injustiças
Que o Homem limitado não vê.
Mata sem querer a àgua amiga
E mata-se a si o estupido e desgraçado:
E a gota seca...e o Homem definha...

2000

domingo, 7 de dezembro de 2008

Ácido e Base


Nesta vida tão radical
Feita de dois extremos
Entre o ácido e o básico
Há o meio destes termos

Pois tu oh ácido puro
Do mais baixo pH
Julgas-te poderoso, perigoso
O mais corrosivo que há

E tu básico nas alturas
Com estranho gosto a sabão
Tendo por tua estrutura
Por tua base um anião

Vós, meios da natureza
Tão diferentes um do outro
Numa simetrica atracção
Encontram-se em "terreno" neutro

E é assim que se misturam,
Ácido e base esquecem suas propriedades
Nasce o seu fruto "neutro"
A paz findando as rivalidades

Uma reflexão sobre as titulações, em 2000