sábado, 13 de dezembro de 2008

Gota ...a gota...


A Terra a arder em apuros
Valeu-lhe o grandioso Céu
Que às nuvens fazendo furos
Uma nova vida lhe deu:
Gota... a gota...

Todavia, a Terra estava triste:
Tão enorme, mas tão só!
Porém o Céu que a tudo assiste
Também chora de dó:
Gota... a gota...

E o diluvio formou os mares
Deslizando sobre a terra,
Espalhando sonho e vida
A magia de uma nova era:
Gota...a gota...

E uma primeira e singela flor,
Pequena, frágil e assustada
Acordou-a o correr dos rios
No despertar da radiosa alvorada:
Gota...a gota...

E outros peixes, outras flores,
Belos lagos, grandes moinhos,
Uteis bebedouros, novos seres
Até o Homem, todos se formaram:
Gota... a gota...

Nasceu-se dela, sobrevive-se dela
E nessa sede que em ti arde e te consome
Procura-la até nas tuas miragens
Sentindo-lhe o sabor como se fosse fome:
Gota...a gota...

E é esse deserto que tu és
Enorme, mas vago, quase inerte,
Procurando desesperadamente um oasis
Só então a sede se inverte:
Gota...a gota...

Só ela é verdadeira e forte
A justiceira dos valores vitais
No combate vital até à morte
Sempre contra as chamas infernais:
Gota... a gota...

E é num copo, fresca e limpida,
Incolor, insipida e inodora,
Nesta simplicidade, que se condensa a fortuna
Deste mundo que a devora:
E a gota seca...

Mas é contra ti oh àgua pura:
União do Céu e da Terra
Que a mente vazia e fútil
Do teu fruto te encerra:
E a gota seca...

São estes seres oh bondosa água
Que não te reconhecem como Mãe
Que renegam o teu valor,
Em tudo o que de ti vem:
E a gota seca...

E é esta dor que te moi
A tua geral insignificância
Neste mundo que constrois
Mas te trata com arrogância:
E a gota seca...

Salvas o mundo, vives para o mundo
Tornas o mundo vivo...
Mas o mundo mata-te
Desampara-te o falso amigo:
E a gota seca...

E é este mar de injustiças
Que o Homem limitado não vê.
Mata sem querer a àgua amiga
E mata-se a si o estupido e desgraçado:
E a gota seca...e o Homem definha...

2000

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